O menine Santa Cecilier

Se você vive — ou já viveu —

nestes bairros,

vai entender.

Ou não. Talvez me odeie,

e tudo bem.

Santa Cecília, Pinheiros, Vila Buarque, Higienópolis...

Cartografia da alma urbana,

onde mora a elite cultural,

(pseudo) intelectual,

mundana,

esquerdista de teoria,

com seus pets adotados,

herdeira por DNA —

sem calo na mão.

Sabem tudo. Leram tudo. Julgam tudo.

Generalizar é tolice, eu sei.

Mas a aura... a aura é real.

Ali se nasce e se permanece,

no seio de apartamentos velhos,

ou estúdios minúsculos,

com livros na estante

e revoluções no tapete.

Nunca pisaram em barro,

mas ostentam bonés do MST

com orgulho de guerrilheiros.

Guerrilheiros de Instagram...

Falam de política, arte, música, economia,

entre um café no Takko e um sorvete no Cangote.

Usam Linus, pisam Veja,

passeiam de pijama —

com pose despojada.

Mas o cachorro? Zee Dog, claro. Ele merece.

Aos domingos, rituais:

feirinha de rua,

xícara artesanal,

cinquenta reais bem pagos

à ceramista local.

Drinks autorais,

hashtags nas sociais.

E um nojo contido

dos que dormem na calçada:

moradores de rua incomodam!

Mas e os vira-latas?

Ah, esses sim, merecem amor!

Se observar e absorver,

vai sentir:

há um cheiro no ar;

de hipocrisia

com notas de patchouli

e, claro, urina,

pois é Sampa né...


Autor: P M N

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