Um timbu no meu telhado
8 de março de 2021
Pipa, Tibau do Sul, RN, Brasil
Há mais ou menos 3 anos, tomei uma decisão; iria bagunçar minha estrutura de vida, sair da universidade e, ao invés de conseguir um bom trainee, iria trocar trabalho por hospedagem e alimentação em lugares diversos deste Brasil, conhecer meu país, conhecer realidades distintas, lugares inusitados em situações desafiadoras. Trabalhei em retiro, acampei em beira de rio, em posto de gasolina, pedi carona, surfei em sofás e em mares diversos... Estou contando isso para explicar o motivo de hoje eu morar na praia da Pipa, no Rio Grande do Norte, em um chalé no meio do mato. Como eu vim parar aqui é assunto para outro artigo, mas a história que eu gostaria de contar é sobre um gambá que está vivendo em meu telhado. Neste instante exato, ele está ali, fazendo barulho e desafiando minha paciência e capacidade de concentração. Faz três semanas que eu entrei em um embate com este gambá e pasmem, ele é mais inteligente do que eu. Tem muito mais percepção do entorno e sensibilidade para identificar meus rompantes de raiva e sair de cena na hora exata em que eu já deixei de lado meu senso de proteção animal. O gambá é um animal incrível, come jararacas e tem um papel importantíssimo na fauna, mas juro que em alguns momentos eu esqueceria tudo isso e daria uma paulada nele. Quando ele percebe isso, sai de cena. Já destelhamos o chalé, passamos creolina, naftalina, fizemos armadilha. Nada pega o gambá gênio. O cheiro da creolina foi tão forte que precisei dormir fora, mas ele dormiu lá! Mas Pedro, por que raios você está escrevendo sobre um gambá? Porque o gambá me fez enlouquecer e eu já não sei bem o que faço, pois não durmo há uma semana? Não, não... Nada disso.
Estou escrevendo sobre o gambá no meu telhado, pois ele me proporcionou um aprendizado nos últimos dias. Ele tem me mostrado o quanto nós, seres humanos, nos distanciamos da natureza com nossas telas e bitcoins e problemas criados. Na verdade, estamos nus em um planeta cada vez mais depredado. Experimente ficar sem água e energia por uma horinha; você pira, cara pálida. Este gambazinho safado está me mostrando os ciclos da natureza (eu acordo, ele vai dormir; eu vou dormir, ele acorda - e me acorda) e que muitas vezes existem coisas que só aprendemos a lidar se pararmos, respirarmos e respeitarmos. É assim. É a natureza, é o ciclo. Paremos de querer alterar tudo e colocar o planeta em uma marcha que não nos pertence. (Mas eu vou pegar o gambá, juro)
Autor: P M N
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